Renata Lima Cunha.
Nutricionista Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO – Governador Valadares, MG – CRN 8284.
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NO TRATAMENTO CIRÚRGICO DO CÂNCER
O procedimento cirúrgico faz parte do tratamento do câncer e dependendo do estado nutricional em que se encontra o paciente, esse pode estar em risco para complicações pós operatórias ¹.
A patogênese das complicações infecciosas envolve alguns fatores como extensão da doença primária, magnitude da cirurgia, comprometimento imunológico e estresse oxidativo ²; mas tem a desnutrição como um fator independente para complicações pós operatórias ¹.
O processo cirúrgico predispõe o indivíduo a um estado inflamatório, aumentando seu gasto energético e proteico; leva ao catabolismo de glicogênio, gordura e proteínas para suprir as necessidades de glicose, ácidos graxos livres e aminoácidos ³. Para uma adequada recuperação e cicatrização, o organismo precisa estar bem nutrido e garantir os substratos necessários nesse momento 4.
A partir do diagnóstico até a realização da cirurgia há uma importante janela de tempo que deve ser aproveitada no preparo dos pacientes. Um dos primeiros a estudar os efeitos da pré habilitação nos resultados pós cirúrgicos, foi o médico e pesquisador Franco Carli, que está à frente da elaboração de programas perioperatórios multidisciplinares com o intuito de acelerar o processo de recuperação em grandes cirurgias 5.
O Colégio americano de cirurgiões criou o programa Strong for surgery com práticas baseadas em evidências para os melhores resultados cirúrgicos. A nutrição pré operatória é a primeira recomendação 6, justificada às inúmeras complicações que o paciente desnutrido apresenta durante e após a cirurgia 7. A recomendação aborda: triagem para desnutrição, testes de laboratório para estratificação de risco e triagem para uso de suplementos 6.
As recomendações nutricionais pré operatórias publicadas pela ESPEN 2020, ressaltam que outros fenótipos de desnutrição devem ser incluídos nos cuidados: sarcopenia, obesidade sarcopênica, mioesteatose e caquexia. Além de se atentar à presença de obesidade e síndrome metabólica, por também colocarem esses pacientes em maior risco diante de procedimentos cirúrgicos 8.
Já são muitos os estudos que mostram as consequências ao procedimento cirúrgico na presença de desnutrição e a importância do aporte nutricional adequado para evitar essas complicações: infecção, dificuldade de cicatrização, aumento da morbidade e mortalidade, aumento do tempo de hospitalização, período de convalescência e custos 9,10,11,12.
Faz parte do aporte nutricional e desenvolve um importante papel na proteção aos pacientes submetidos à cirurgia oncológica, o uso de nutrientes com potencial atividade imunomoduladora 13,14. Sendo orientada também para aqueles que não se encontram em risco nutricional, por ter demonstrado contribuir na redução do número e na gravidade das complicações pós operatórias 15.
O I Consenso Brasileiro de Nutrição Oncológica ¹ e a ESPEN practical guideline, publicado em 2021, orientam a intervenção com dieta imunomoduladora, preferencialmente no período pré operatório, que consiste na administração de fórmula enriquecida com imunonutrientes: arginina, ácidos graxos ômega 3 e nucleotídeos. Mas ressalta a importância de manter todos os cuidados orientados nos protocolos multimodais de cuidados perioperatórios além da imunonutrição 16.