Drogas anticâncer e nutrição

Georgia de Oliveira – Rio de Janeiro/RJ

Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO

 

Atualmente a terapia anticâncer vem passando por diversas mudanças, inovações e apresentando novos recursos na busca da melhoria do tratamento, bem como, da qualidade de vida do paciente oncológico. Um exemplo disso é  a administração de drogas orais.

Os medicamentos orais em oncologia podem ser classificados como medicamentos quimioterápicos, hormonioterápicos ou ainda medicamentos alvo (imunoterapias ou bioterapias). Essas modalidades terapêuticas se diferem no mecanismo de ação da medicação 1.

A quimioterapia oral é uma droga que age no organismo como um todo, interferindo na multiplicação celular, podendo agir em células cancerígenas e também em células sadias 1.

Já a hormonioterapia oral é a administração de substâncias que bloqueiam hormônios envolvidos ativamente no crescimento e desenvolvimento do câncer, como é o caso, por exemplo, do estrogênio e progesterona no câncer de mama e endométrio, e da testosterona no câncer de próstata 1.

Em relação a imunoterapia oral, as medicações são direcionadas a alvos específicos na célula tumoral e tem o intuito de poupar as células normais da ação medicamentosa. Nos últimos anos, com os avanços dos estudos no campo da oncogenética, cientistas têm pesquisado cada vez mais alterações genéticas no surgimento e no desenvolvimento do câncer, criando novas drogas bioterápicas 1.

Embora a administração destas drogas sejam fáceis e confortáveis para os pacientes melhorando sua qualidade de vida, é importante ressaltar  que todos os agentes antineoplásicos podem ter efeitos colaterais, como: disgeusia, anorexia, diarreia, náusea, constipação intestinal, vômito, mucosite e toxicidades hematológicas. Esses efeitos indesejáveis podem levar ao risco nutricional ou até mesmo à desnutrição 1.

É de longa data que se discute a respeito das interações medicamentosas. Elas podem ser entre drogas e nutrientes ou, até mesmo, entre drogas, sendo seu mecanismo de ação explicado pela farmacocinética e farmacodinâmica. A farmacocinética é a etapa que a droga sofre desde a administração até a excreção, já a farmacodinâmica é como a droga age no organismo e estuda os efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e dos seus mecanismos de ação 2.

O comportamento farmacocinético de um medicamento depende dos fatores relacionados ao paciente, bem como das propriedades químicas da droga. Por isso, as características dos pacientes têm relevância importante no curso do tratamento 3.

As ações farmacocinéticas alteram parâmetros de absorção, distribuição, metabolismo e excreção. As que modificam a absorção estão ligadas aos mecanismos de alterações da motilidade gastrointestinal, formação de quelatos, modificações no pH do trato gastrointestinal entre outros. Segundo Capucho et al.(2011), tais alterações podem ter várias consequências para a interação da droga, como o aumento da concentração do agente fármaco, elevando o seu efeito e, assim, causando maior risco de toxicidade, comprometendo sua eficácia terapêutica, além de prejuízo para o estado geral do paciente 2,4.

A desnutrição caracterizada pela perda de massa celular, principalmente da perda de massa muscular e do estado funcional do paciente, pode afetar diretamente a biodisponibilidade da droga e por consequência prejudicar a terapêutica anticâncer, bem como a qualidade de vida do indivíduo 3,5,6.

Park et al. (2014), estudaram a relação entre o estado nutricional dos pacientes com linfoma difuso de células grandes B tratados com Rituximab e o resultado de sobrevida. O estudo observou que a maioria dos parâmetros nutricionais mostraram uma associação com maior sobrevida dos pacientes 7.

Perez-Pitarch et al. (2015), demonstraram em um estudo pré-clínico, que a desnutrição influencia no processo da absorção do Erlotinib, no aumento de inibidor da tirosinaquinase e de receptores (HER1 / EGFR). Neste estudo, a taxa de absorção passou para um aumento de 20%, juntamente com uma redução de 5% na liberação da medicação, em ratos subnutridos 8.

 Conclusão

Antineoplásicos têm grande potencial de efeitos adversos e interações. É essencial adquirir uma compreensão completa de sua farmacologia, de suas interações medicamentosas, da farmacocinética e da farmacodinâmica para o uso seguro e efetivo.

A avaliação nutricional precoce nos pacientes candidatos a receber drogas anticâncer com potenciais reações adversas é crucial no processo de triagem. Permitindo a aplicação de suporte nutricional e ou realizar adaptações de dose de fármacos que possam favorecer o tratamento da terapia oncológica sem atrasos ou interrupções devido à toxicidade.

O tratamento do paciente com câncer representa um grande desafio demandando um cuidado transdisciplinar.

 Referência Bibliográficas

  1. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia Brasileira. Brasília: Anvisa; 2010.
  2. BACHMANN, K. A.; LEWIS, J. D.; FULLER, M. A.; BONFIGLIO, M. F. Interações Medicamentosas. 2ª Ed. São Paulo: Manole, 2006. p. 887.
  3. PÉREZ-PITARCH, A.; GUGLIERI-LÓPEZ, B.; NACHER, A. et al. Impact of Undernutrition on the Pharmacokinetics and Pharmacodynamics of Anticancer Drugs: A Literature Review, Nutr Cancer.2017 May-Jun;69 (4):555-563.
  4. CAPUCHO, H. C.; CARVALHO, F. D.; CASSIANI.; S. H. B.Farmacovigilância: gerenciamento de riscos da terapia medicamentosa para a segurança do paciente. São Paulo: Yendis, 2011.
  5. BOZZETTI, F: Why the oncologist should consider the nutritional status of the elderly cancer patient. Nutrition 31, 590–593, 2015.
  6. STUURMAN, F. E.; NUIJEN, B.; BEIJNEN, J. H.; SCHELLENS, J. H: Oral anticancer drugs: mechanisms of low bioavailability and strategies for improvement. Clin Pharmacokinet. 52, 399– 414, 2013.
  7. PARK, S.; HAN, B.; CHO, J. W.; WOO, S. Y.; KIM, S. et al.: Effect of nutritional status on survival outcome of diffuse large Bcell lymphoma patients treated with rituximab-CHOP. Nutr Cancer 66, 225–233, 2014.
  8. PEREZ-PITARCH, A.; NACHER, A.; MERINO, V.; CATALAN-LATORRE, A.; JIMENEZ-TORRES, N. V. et al. Impact of nutritional status on the pharmacokinetics of erlotinib in rats. Biopharm Drug Dispos, 2015.

 

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