Celia Cristina Diogo Ferreira
DESNUTRIÇÃO EM IDOSOS COM CÂNCER
Celia Cristina Diogo Ferreira
Atuação como Especialista em Nutrição Oncológica pela SBNO em Cabo Frio e Macaé / Rio de Janeiro
Currículo Lattes: Professora Adjunto do curso de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro campus Macaé. Doutorado em Ciências pela FIOCRUZ (2018).Possui mestrado em Nutrição Humana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999) e graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995). Especialização em Nutrição Oncológica pela Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica / SBNO (2019).
Pós Graduação em Fitoterapia, Suplementação e Alimentos funcionais aplicados à prática clínica (UniFOA). Coordenadora do grupo de pesquisa e extensão em nutrição e envelhecimento (GPENUTE) e vice-coordenadora do grupo de pesquisa e extensão em nutrição e oncologia (PENSO). Tem experiência acadêmico-profissional na área de Nutrição, atuando principalmente nos seguintes temas:envelhecimento, oncologia, avaliação nutricional, terapia nutricional e dietética, nutrição funcional e fitoterapia.
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/9629725598118020
Devido ao acelerado crescimento da população idosa e ao progressivo aumento da incidência de câncer com o envelhecimento, o tratamento de pacientes idosos com esta enfermidade, tornou-se um importante problema de saúde pública1. A ocorrência de tumores na população com idade igual ou maior a 65 anos tem aumentado consideravelmente em comparação com os adultos mais jovens2. A idade média de diagnóstico de doença oncológica é de 66 anos e 70% da mortalidade por câncer ocorre em pessoas com mais de 65 anos3,4.
Com o avanço da idade é maior a chance de surgimento da carcinogênese, pois há uma suscetibilidade aumentada dos tecidos envelhecidos aos agentes cancerígenos2. Múltiplos fatores pró-inflamatórios como prostaglandina E2, interleucina (IL) -6, IL-1, fator de necrose tumoral (TNF-α), ligante do TNF e interferon γ são produzidos durante o processo carcinogênico e expressam ações catabólicas por meio dos receptores específicos nos tecidos muscular e adiposo, caracterizando a desnutrição associada ao câncer5.
A desnutrição é mais prevalente em pacientes idosos com câncer que em pacientes jovens, variando entre 25% a 85%, uma vez que o processo de envelhecimento está associado às várias alterações fisiológicas, que podem ter implicações no estado nutricional1,6.
Identificar os fatores de risco para prejuízos nutricionais permitirá intervenções, que podem melhorar o tratamento, tolerância, qualidade de vida e resultados de sobrevivência7. Dentre os principais fatores relacionados com a desnutrição, destacam-se fatores psicossociais, socioeconômicos, vulnerabilidade do idoso, alterações cognitivas, polifarmácia, quedas, incontinência e outras síndromes geriátricas8. A localização do tumor tem forte influência na mortalidade, uma vez que 50% de mortes associadas à desnutrição incluem os cânceres pancreático, esofágico, gástrico, pulmonar, hepático e colorretal2.
Alterações metabólicas, disfagia, caquexia, efeitos colaterais de toxicidade aguda das terapias anticâncer (anorexia, náusea e vômito) podem exacerbar a deterioração nutricional9 levando a maior morbidade e mortalidade, baixa qualidade de vida, do estado funcional e da tolerância ao tratamento, mau prognóstico, aumento de infecções pós-cirúrgicas, tempo prolongado de internação e maior readmissão. Pacientes desnutridos são 2,53 vezes mais propensos a ter depressão e 3,82 vezes mais probabilidade de serem frágeis7.
Algumas pesquisas têm identificado os fatores relacionados à desnutrição em idosos. No estudo transversal e multicêntrico de Pinho et al., em 45 hospitais públicos no Brasil, 55% dos participantes com idade ≥65 anos tinham desnutrição moderada e grave sendo inapetência (OR, 1,90; IC 95%, 1,62-2,22; P <0,05) e xerostomia (OR, 1,40; IC 95%, 1,1-1,67; P <0,05) os principais fatores associados à desnutrição10.
Na coorte multicêntrica hospitalar conduzida por Nivaldo Barroso de Pinho com 3061 pacientes idosos com câncer verificou-se que 33,4% dos pacientes estavam desnutridos e 39,3% estavam em risco de desnutrição. Os autores constataram que o tempo de internação hospitalar (em dias) foi maior nos pacientes com pior estado nutricional (desnutridos: 7,07 ± 7,58; com risco: 5,45 ± 10,73; eutrofia: 3,9 ± 5,84; p <0,001)3,6.
Diante disto, a triagem e a avaliação nutricional devem ser realizadas imediatamente após a hospitalização (até 48 h da internação) para permitir diagnóstico e intervenção multi/interdisciplinar precoce10,11, sendo a Avaliação Subjetiva Global Produzida pelo Próprio Paciente (ASG-PPP) e a Mini Avaliação Nutricional (MAN) as ferramentas mais indicadas para a população idosa e oncológica durante a admissão hospitalar12.
Para confirmar o déficit nutricional do idoso durante a internação ou atendimento ambulatorial, recomenda-se o uso da ASG-PPP ou da MAN versão reduzida além de uma anamnese nutricional detalhada, dados clínicos, exame físico, história alimentar, exames laboratoriais e parâmetros antropométricos (índice de massa corporal, dobra cutânea tricipital e os perímetros da panturrilha, do braço e muscular do braço ) utilizando-se fórmulas preditivas quando não for possível o uso de medições. Associada à essas medidas, preconiza-se a utilização do percentual de perda de peso (%PP), importante marcador de risco nutricional ou desnutrição, para auxiliar na identificação da efetividade e encaminhamento das intervenções nutricionais11,12.
Mesmo com a conscientização sobre a associação de desnutrição e piores desfechos clínicos, os pacientes nem sempre recebem intervenção nutricional ideal. Algumas estratégias incentivadas são: 1) Garantir o ajuste adequado das próteses para melhorar função mastigatória e ingestão oral e facilitar o prazer de comer; 2) Assegurar aporte energético e proteico adequados; 2) Atender às recomendações hídricas, de vitaminas e de minerais; 3) Evitar jejuns prolongados e desnecessários para procedimentos; 4) Quando a ingestão oral de alimentos é inadequada, suplementos nutricionais orais são uma alternativa; 5) Para aqueles que não conseguem tolerar a ingestão oral e atendem aos critérios para alimentação por sonda ou nutrição parenteral total (NPT), essas intervenções precisam ser iniciadas o mais rápido possível; 6)Para pacientes em cuidados ao fim de vida, prescrições nutricionais devem se concentrar no conforto e qualidade de vida7,8,12,13.
O cuidado nutricional ao paciente idoso com câncer deve basear-se na sua capacidade funcional, cognitiva, nutricional e socioeconômica, entre outras, e ter como objetivo manter ou recuperar o estado nutricional, melhorar o sistema imunológico, minimizar os efeitos colaterais do tratamento, assim como promover qualidade de vida.